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O fim do mundo é democrático e sem Copyright.
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Dois zero um dois

O mundo acabou. Ao contrário do que pressupunha o imaginário popular (e os diretores de Hollywood), contudo, seu fim não se deu com o apocalipse a devastar o planeta com tempestades, terremotos, invasões extraterrenas e afins. Não; o fim do mundo foi musicado, repleto de aura e energia positiva. Seu processo durou pouco menos de três horas e, ao final, não se viu um corpo sequer às traças – mas apenas almas vibrantes a não reconhecer ao certo a dimensão onde se encontravam.

Jamais acreditei nas profecias milenares de Nostradamus ou de quem quer que fosse, tampouco levei a sério o alerta constante do amigo Ernani (o que, em parte, explica minha ausência no blog). Jamais dediquei qualquer tempo à leitura menos rasa de qualquer coisa sobre o assunto. Primeiro porque sempre achei que o mundo já acabou há muito tempo, partindo do princípio de que seu fim está atrelado ao mal; depois, porque isso é apenas pretexto para reportagens de publicações autodenominadas interessantes.

Do alto de minha soberba, errei. A civilização pré-colombiana estava certa, o calendário maia foi rigorosamente preciso em sua sequência numérica: dois zero um dois. O que não previam, no entanto, era o traço vertical entre os dois primeiros e os dois últimos números. Sacramentada aquela que se tem por hábito denominar barra, tudo fez mais sentido às almas a perguntar “por onde andei?”.

Não se tratou de um espetáculo anunciado explicitamente como tal, mas sob a máscara de uma apresentação artística, digamos, apenas mais esperada – e mais cara – do que o convencional. Os portões para o fim do mundo abriram às 18h30. Os ingressos custaram quase 90 euros – e estima-se que algo em torno de 14 mil pessoas o acompanharam ao vivo, da costa de uma ilha no hemisfério norte.

O fim do mundo, a bem de toda a verdade, foi primoroso. Tivesse o poder de revivê-lo, o faria diariamente – como que para poder entender melhor cada detalhe de seu porquê, reprisar cada nota de sua mensagem.

Depois do show de Paul Mccartney, o mundo – ao menos o meu – começou de novo. Tudo foi dividido entre antes e depois. Entre o que ficou pra trás, apequenado e moroso, e o que se descobriu depois da prova de que Deus não só existe como foi um beatle nos anos sessenta.

1 comentários:

Mr. Lemos disse...

Sábio, amigo! A profecia se cumpriu e nós, desde o último 20/12, vivemos certamente em um novo mundo. Que a sagrada música do Paul esteja sempre entre nós! Amém, porraaaa!!